quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Na nova geração o orkut é o novo autorretrato


Auto-retrato, muitas vezes é definido em História da Arte, como um retrato (imagem, representação), que o artista faz de si mesmo, independente do suporte escolhido. Reconhece-se, em geral, que a partir da renascença italiana, a produção destes, conscientemente, pelo artista, passou a ser cada vez mais freqüente, chegando à obsessão de um Rembrandt - quase uma centena - ou de uma Vigée-Lebrun.
Mais recentemente, no século XX, dificilmente encontra-se artista, renomado ou não, que não tenha procurado produzir o seu. Seja ou não este produto, reconhecido no campo artístico como inserido nesta categoria.
É comum encontrar-se em textos referentes à auto-retratística, a afirmação de que a produção de auto-retratos é presente na antigüidade clássica. Cita-se constantemente o escultor Fídias, do século V a.C., o qual teria deixado no Partenon, em Atenas, sua imagem esculpida; antes, no Antigo Império Egípcio, um certo Ni-ankh-Phtah, teria deixado sua fisionomia gravada em monumento; ou ainda, considera-se eventualmente, que em culturas pré-literárias já havia quem os produzisse. O mesmo é dito a propósito do período medieval, época na qual procuram-se auto-retratos (e alguns afirmam encontrar) em manuscritos destinados aos mais variados propósitos: em iluminuras religiosas, principalmente.
Os auto-retratos ou self-portraits tem uma função muito parecida com a que tinham as fotografias de estúdio há quase dois séculos atrás: editar o próprio corpo transformando-o em símbolo da classe social a que a pessoa pertenceria. Hoje, quando dispensamos fotógrafos em favor do timer das câmeras, podemos simbolizar só a nós mesmos. Isso pode dar a impressão de que vivemos um momento de esquizofrenia mas, percebendo a complexidade do processo, vê-se que não é assim; ao mesmo tempo em que queremos ser autênticos, queremos ter um referencial de grupo a que nos apegar, a onde pertencer – vejam que um auto-retrato nunca é tirado e guardado, queremos sempre publicá-los aqui ou ali, no Orkut, no My Space, no messenger... A internet é a convulsão desse fenômeno.
Os estudos exclusivamente versando sobre auto-retratos e a atenção a eles dispensados, entretanto, só têm início no século XX: década de 20, especificamente. Trabalhos mais rigorosos e aprofundados só aparecerão na década de 50, mas, neste período, as peculiaridades do fazer artístico e o pensamento sobre ele esfacelam as noções do que seria um auto-retrato e o seu enquadramento como gênero artístico advindas dos séculos anteriores. Como entender e classificar um "auto-retrato" de Mattia Moreni ou de Keith Haring?
Na pintura brasileira, Eliseu Visconti certamente foi um dos artistas que mais se auto-retrataram. Estima-se que tenha executado cerca de quarenta auto-retratos, representativos das diversas fases de sua produtiva carreira artística

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